Resenha: Dois Garotos se Beijando de David Levithan

Título: Dois Garotos se Beijando
Autor: David Levithan
Gênero: Romance, Jovem Adulto, Young Adult
Editora: Galera Record
Páginas: 224
Ano: 2015
Sinopse: Do mesmo autor do best-seller Will & Will e Todo dia. Do lado de fora da escola, ao ar livre, rodeados por câmeras e por uma multidão que, em parte apoia e em parte repudia o que estão fazendo, Craig e Harry estão tentando quebrar o recorde mundial do beijo mais longo. Craig e Harry não são mais um casal, mas já foram um dia. Peter e Neil são um casal. Seus beijos são diferentes. Avery acaba de conhecer Ryan e precisa decidir sobre como contar para ele que é transexual, mas está com medo de não ser aceito depois disso. Cooper está sozinho. Passa suas noites em claro, no computador, criando vidas falsas online e seduzindo homens que jamais conhecerá na vida real. Mas quando seus pais descobrem seu passatempo proibido, o mundo dele desaba. Cada um desses meninos tem uma situação diferente. Alguns contam com o apoio incondicional da família, outros não. Alguns sofrem com o bullying na escola, outros, com o coração partido. Mas bem no centro de todas essas histórias paralelas está o amor. E, através dele, a coragem para lutar por um mundo onde esse sentimento nunca seja sinônimo de tabu.

"O mundo está cheio de pessoas que pensam que diferente é sinônimo de errado."

Que importa qualquer coisa quando os braços daquele alguém nos apertam firme? Quando os corpos se encaixam e os corações buscam, no silêncio, uma frequência em que possam pulsar como um só? Tudo é irrelevante, mero pano de fundo esquecido. Que importa qualquer coisa quando as mãos dadas trazem a coragem que nem se sabia existir? E então, que importa se são dois garotos ou duas garotas se beijando? Se são pessoas que ainda não se encontraram, que estão buscando sua identidade? Que importa? Se somos, afinal, tão diferentes e tão iguais. Quebrados, vítimas e vilões. Essa foi uma mensagem que eu senti com muita intensidade nesse livro. O tempo todo, implícita, quase poética nos detalhes. E daí, se são dois garotos se beijando? São, antes de qualquer estereótipo torpe, duas pessoas. Que têm como qualquer outro, o direito de amar. E viver esse amor. Ou aliás, o direito de se beijar sem compromisso, se for da sua vontade também. Cada qual com o seu caos, certo?

"O amor é tão doloroso; como podemos desejar para alguém? E o amor é tão essencial; como podemos atrapalhar o progresso dele?"

Um solitário tentando se aceitar, dois quase estranhos precisando perder o medo para se conhecer melhor. Dois garotos firmando a cada dia mais seu relacionamento. E, outros dois que já romperam mas estão novamente juntos para algo bem maior. Sete jovens. Problemas de aceitação, preconceito, bullying. Problemas, mas não somente isso, também. Quando Craig e Harry resolvem quebrar o record de beijo mais longo do mundo, todas essas histórias se cruzam de formas incríveis, com um único objetivo: Participar desse, que é, antes de qualquer coisa, um grito a favor do amor livre.

"Sabemos que alguns de vocês ainda sentem medo. Sabemos que alguns de vocês ainda estão em silêncio. Só porque está melhor agora não quer dizer que é sempre bom."

Em primeiro lugar, essa premissa é genial. E simplesmente a cara do Levithan. Assim como nos outros livros dele, algo que pode se passar por bobo até mesmo fútil, mas que carrega consigo uma carga emocional muito grande. Uma mensagem, um propósito. Propósito esse que se sobressaiu muito em "Dois garotos se beijando". Achei o começo um tanto quanto confuso, mas é questão de ambientação mesmo. A narração me incomodou um pouco a princípio por ser na primeira pessoa do plural, mas me habituei e acabei amando essa particularidade. Esse tom confessional, próximo, doloroso, às vezes. A escrita é uma delícia, leve e profunda do jeito certo. Aliás, algo que me prende muito ao Levithan são as primorosas reflexões que aparecem por toda a história. É uma sensibilidade que me encanta de uma forma inexplicável. Acho que o que me conquistou, mais uma vez, não foi nem a história. Inclusive acabei por gostar mais do Peter e do Neil do que dos próprios Craig e Harry. A grande questão desse livro é que ele é tão belo, tão doce, gostoso de ler. Envolvente, agradável, sublime. Nem sei dizer. Fantástico.

"Ele sente aquilo que sabemos: o sobrenatural é natural, e o milagre pode vir do movimento mais mundano, como um batimento de coração ou um olhar. O garoto de cabelo rosa está com medo, com tanto medo; só aquilo que você mais desejou pode assustar daquela maneira. Escutem os batimentos deles. Prestem atenção."

Outra questão bem presente e brilhantemente trabalhada foi a AIDS. Traçando um paralelo entre a atualidade e a década de noventa, ficou claro que houveram mudanças, mas que ainda há bastante a ser feito. Algumas partes com relação a esse assunto chegaram a me deixar com um nó na garganta. Um livro apaixonante. Infelizmente curto, mas felizmente incrível. É leve, mas não do jeito comum.

"Toda vez que dois garotos se beijam, o mundo se abre um pouco mais. Seu mundo. O mundo que deixamos. O mundo que deixamos para vocês. Este é o poder de um beijo: Ele não tem o poder de matar você. Mas tem o poder de trazer você à vida."

Achei muito bacana que o autor esclareceu alguns pontos no final, falando sobre a inspiração que teve e suas intenções ao escrever. É mais do que parece. Me deixou sem palavras, sem vontade de sequer procurar definições. É uma história sobre tolerância, empatia, coragem. Sobre amor, sim, mas principalmente o amor universal. Que respeita, entende e aceita. O amor que não conhece preconceitos e rótulos, porque sabe que são inúteis.

Descrição da capa: fundo azul claro com dois garotos se beijando, mas apenas o traçado de seus rostos através de palavras e frases na cor preta, que juntas, montam o contorno e as feições de seus rostos. O nome do autor é escrito em preto e o título do livro em branco.

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11 comentários:

  1. Eu não sou muito de ler romances, mas esse livro me deixou curiosa pois desde o lançamento muitos estão falando coisas positivas, e estou curiosa, então o coloquei na minha lista para ler em breve.

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    1. Sempre vale dar uma saidinha da nossa zona de conforto, mesmo que seja para algo com que não nos identificamos muito, tomara que você goste. :)

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  2. Cara, jah tava querendo ler esse livro agr quero mais

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    1. Vá com tudo! :D Ótima leitura quando cconseguir ler.

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  3. Estou louca pra ler esse livro e essa resenha me deixou mais curiosa...

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    1. Adoro, cumpri a minha inteção, hehehe. Espero que consiga ler logo e goste.

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  4. Gostei do que você escreveu e o livro parece ser bem legal!!

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  5. Bastante interessante, e bem autêntico gostei da resenha ;]

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    1. Leia! Autêntico é o segundo nome do Levithan. Tomara que goste, obrigada pelo comentário! :D

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  6. Os livros do David Levithan sempre me chamam a atenção pro tudo isso que você falou. A narrativa é sempre ótima e as reflexões são muito interessantes. Ele consegue escrever de maneira simples, mas que trás mensagens bem pertinentes. Enfim, me tornei fã dele desde o primeiro livro dele que li ("Todo Dia"). Espero ler esse muito em breve também.

    @_Dom_Dom

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