Resenha: Mar da Tranquilidade de Katja Millay

Título: Mar da Tranquilidade
Autora: Katja Millay
Editora: Arqueiro
Gênero: Romance, drama, jovem-adulto
Tradução: Carolina Alfaro
Ano: 2014
Páginas: 368
Sinopse: Nastya Kashnikov foi privada daquilo que mais amava e perdeu sua voz e a própria identidade. Agora, dois anos e meio depois, ela se muda para outra cidade, determinada a manter seu passado em segredo e a não deixar ninguém se aproximar. Mas seus planos vão por água abaixo quando encontra um garoto que parece tão antissocial quanto ela. É como se Josh Bennett tivesse um campo de força ao seu redor. Ninguém se aproxima dele, e isso faz com que Nastya fique intrigada, inexplicavelmente atraída por ele. A história de Josh não é segredo para ninguém. Todas as pessoas que ele amou foram arrancadas prematuramente de sua vida. Agora, aos 17 anos, não restou ninguém. Quando o seu nome é sinônimo de morte, é natural que todos o deixem em paz. Todos menos seu melhor amigo e Nastya, que aos poucos vai se introduzindo em todos os aspectos de sua vida. À medida que a inegável atração entre os dois fica mais forte, Josh começa a questionar se algum dia descobrirá os segredos que Nastya esconde - ou se é isso mesmo que ele quer.

Engraçado como vivemos em um mundo imprevisível a ponto de ainda nos surpreendermos quando algo acontece ou deixa de acontecer. Não há garantias, padrões, nada a se esperar. Há apenas o amanhã. O incerto, mesmo que nem nos demos conta disso agora. Em um dia Nastya Kashnikov tem a vida perfeita. No seguinte, tudo lhe é tirado de um único golpe. Sua segurança, sua paz. Até mesmo sua voz. Na verdade, a voz não, é pior do que isso: Sua vontade de falar. Porque nada mais há para ser dito depois daqueles poucos, mas suficientes instantes de terror. Qualquer vontade além da de afastar a todos que se atreva a tentar se aproximar simplesmente foi banida de seu mundo. Agora ela é Nastya, a garota excêntrica que usa preto e quer que todos literalmente a odeiem, apenas para ficar em paz. Ela não é gentil. Não quer ser gentil. Só quer essa escuridão dos seus dias.

(...) "Não faz diferença se fazemos tudo certo, se nos vestimos do jeito apropriado e agimos da maneira correta e seguimos todas as regras, porque o mal vai nos encontrar mesmo assim. O mal é muito engenhoso." (...)

E então há esse garoto chamado Josh. Ele parece ser uma lenda na escola, um ícone admirado e temido na mesma proporção. Vive cercado, se protegendo das pessoas que podem vir a machucá-lo quando também partirem. Porque ele perdeu todos com quem já se importou um dia, menos seu melhor amigo, o único que restou e que o conhece de verdade. Se sente marcado, amaldiçoado, incapaz de acreditar e se entregar.

"- Talvez ninguém saiba como ajudar. Às vezes é mais fácil fingir que não há nada de errado do que encarar o fato de que está tudo errado, mas não podemos fazer nada."

Por mais estranho que possa soar, os caminhos de ambos começam a se cruzar, aos poucos, sutilmente. E depois nasce uma rotina, uma certa identificação naquele silêncio cheio de significados, que cresce e envolve, pedindo algo mais que nenhum deles sabe se poderá conceder. São imperfeitos e estranhos, são humanos. E, embora possa parecer clichê, esses dois jovens despedaçados escolhem, mesmo que inconscientemente, um ao outro para ajudá-los no próprio recomeço. Mas tudo o que eles não são é um clichê. Por isso, nada será fácil, mesmo que o caminho pareça não ter mais volta, sempre haverá mais a ser descoberto e superado. Basta saber se Josh e Nastya, vão, acima de tudo, vencer o medo e permitir que alguém os ame de novo.

Estreando na literatura com Mar da tranquilidade, Katja Millay com certeza deu um primeiro passo admirável e muito promissor. Esse é um livro de diversas facetas, um verdadeiro e belo mosaico de emoções. A narrativa é brilhantemente interligada entre Nastya e Josh, sem ordem determinada, tudo conforme pede o momento. Não é simplesmente primeira pessoa. É como estar lá, como sentir. É arrebatador mergulhar nos pensamentos conturbados das personagens, admirei muito a escrita da autora nesse ponto. Sem contar que tudo tem o instante certo para acontecer, tudo está interligado, ali esperando para ser descoberto. Não é que tudo tenha um porquê, é que as coisas parece que precisavam ser assim. Os detalhes são desesperadamente fortes, reais. Estamos falando de ódio, amargura, rejeição.

"Pessoas que nunca passaram por merda nenhuma sempre acham que sabem como você deve reagir ao fato de sua vida ter sido destruída. E aquelas que passaram por situações complicadas acreditam que você deveria lidar com as dificuldades do mesmo jeito que elas. Como se existisse um roteiro preestabelecido para sobreviver ao inferno."

Sinceramente as personagens me incomodaram em vários momentos, principalmente a Nastya. Me vi julgando as atitudes dela, criticando, mesmo sabendo que ela tinha passado por algo ruim ainda não revelado na trama. E depois percebi. Percebi que talvez essa tenha sido uma das intenções da autora, ou não. Mas para mim ficou clara a mensagem de que ninguém tem o direito de achar que entende o outro, que poderia agir melhor, que poderia fazer diferente. Ninguém. A partir daí o livro me ganhou mais. Não cabem muitas palavras aqui, é uma leitura difícil, às vezes. O confronto com algumas coisas é intenso, embora sutil e necessário. Esse livro me fisgou por tantos motivos que é difícil dizer.

"Por um momento, me sinto uma sobrevivente em um mundo pós-apocalíptico olhando por uma janela e imaginando uma parte da minha vida que já não existe."

É claro que o livro deve ter defeitos, mas eu não me importo muito. Mexeu muito comigo, me abalou. Esse jeito cru e ao mesmo tempo sensível e reflexivo, simplesmente indico. Nunca gosto de falar muito da trama nas resenhas, porque para mim isso de entrar na história sem "preconceitos" faz a diferença. Só digo que adorei também as personagens secundárias, muito bem construídas. É impossível ficar imune a tantas emoções, a tanto peso, dor e medo. A vontade é ajudá-los a lutar contra tudo isso, contra eles mesmos. Abraçar, acolher e empurrar um para os braços do outro para que eles se curem.

"O lance dela é fugir. O meu é me esconder."

Eu não queria falar muito, mas sempre me excedo. Peguei esse livro sem ler A sinopse, NEM nada, me atirei na história literalmente. E amei a experiência. Esse não é um romance lindo, daqueles que estamos acostumados a ver. É, sim, uma história sobre o amor vencendo o que há de pior no ser humano. E passando por cima de fraquezas, medos e cicatrizes. Não são apenas segundas chances nem perdão. São pessoas. Que erram e acertam e percebem, no final, que há algo, sim, que transcende tudo isso. E vale a pena. Até a última consequência.

"Eu não estou melhor. Não estou nem perto de estar bem. A única coisa que fiz foi decidir melhorar. Mas acho que talvez seja o bastante."

*Descrição da capa: Ao fundo, vemos terra escura e no topo do livro um copo derramando um líquido braco/cinza claro sobre ela. Através do formato que esse líquido se forma no chão, ele molda dois rostos, um de frente para o outro na terra. O título é num tom rosa e o nome da autora em preto. No canto superior esquerdo tem uma frase de alguma leitura chamada Christy do Goodreads: "Uma história de força, amor, perdão e segundas chances. Os dois protagonistas são incríveis e perfeitamente imperfeitos". 

* A descrição da capa é algo que utilizamos no blog para que os visitantes que possuam alguma deficiência visual possam ter uma ideia de como seria a capa, pois os mesmo utilizam uma ferramenta de áudio para ler a resenha.


5 comentários:

  1. Recomendo de olhos fechados essa bela história que fala de perdas, recomeços, fraquezas, medos, angústias... fala de dor, de luto, da importância de acreditar, de esperar, de saber ouvir, de ser paciente... fala de amizade e de quanto ela pode tirar alguém da escuridão... fala, especialmente, de amar, do amor que não se prevê, que não se programa, do amor que simplesmente acontece. Do amor que emociona. Cinco lindas e românticas estrelinhas.

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  2. É difícil expressar o que esse livro me causou, a forma como ele impacta é incrível, Ele mostra que não somos perfeitos e algumas pessoas passam por dores que nem conhecemos, mas muitas são capazes de superar. gostei muito do livro e também da sua resenha ;)

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  3. Confesso que, à primeira vista, não me interessei por esse livro, pois, não sou muito fã de tramas com essa pegada dramática. E, apesar de ver que a autora desenvolveu bem a trama, e colocou personagens bem interessantes, ainda não fiquei completamente convencido de que quero ler. Esse tipo de livro não faz a minha vibe mesmo. Mas, quem sabe não o lerei em um futuro mais distante, não é?!?!

    @_Dom_Dom

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  4. Olá, ainda não li esse livro mas estou ansiosa para ler! adorei a resenha!
    Bjs

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  5. A resenha me faz lembrar da frase "Eu sei o que você esta sentindo". Sempre achamos que entendemos a dor e sofrimento do próximo, mesmo sem nunca ter passado por algo parecido. Gosto de tramas como essa, que nos colocam no coração dos personagens. Ótima resenha, linda capa.
    Vou ler com certeza!!

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