Resenha: Quando ela Acordou de Hillary Jordan

Título: Quando ela Acordou
Autora: Hillary Jordan
Gênero: Distopia, Ficção
Editora: Bertrand Brasil
Ano: 2013
Páginas: 434
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Sinopse: Logo após sua estreia, devido à história de suspense intrigante e à forte análise das emoções humanas, "Quando ela acordou", de Hillary Jordan, foi comparado a grandes clássicos da literatura, como A letra escarlate e Robinson Crusoé. Com o passar do tempo, tornou-se sucesso entre os críticos de todos os veículos de comunicação, figurando nas principais listas de mais vendidos dos Estados Unidos. Quando ela acordou é também uma fábula oportuna sobre uma mulher estigmatizada que luta para navegar na América de um futuro não tão distante, em que a fronteira entre igreja e Estado foi extirpada e os criminosos condenados não são mais presos e reabilitados, mas cromados e novamente soltos no meio da população, para sobreviverem como puderem. O livro apresenta uma metáfora, por exemplo, dos judeus europeus durante o domínio nazista ou dos negros americanos na década de 60. A transformação de um ser humano - ou transfiguração, como utilizado no livro - é um tema importante tratado por Hillary Jordan na história. As dificuldades que surgem ao longo desse processo fazem com que, segundo a autora, as pessoas enfrentem o desconhecido, a vida, com mais coragem. Uma mistura de temas polêmicos, como a separação entre religião e Estado, aborto e justiça com uma história cativante e uma heroína fantástica.

Estamos no futuro. O mundo evoluiu muito, mas retrocedeu o dobro disso. Há computadores super inteligentes, formas de comunicação antes inimagináveis. Mas também há censura. A religião passou a dominar, em uma teocracia rígida e incontestável. As mulheres precisam obedecer e se curvar ao punho firme do patriarcalismo. Não há mais prisões. Os condenados são cromados. Têm o corpo "tingido" com a cor da sua vergonha, do seu crime. Os amarelos, azuis, verdes, vermelhos, são jogados na sociedade para tentar sobreviver por conta própria. Esse é um mundo violento e imprevisível, onde o conceito de justiça  como a conhecemos está completamente irreconhecível. O genial e bem construído mundo de "Quando ela acordou". Era da fé cega, da intolerância, do terror.

"- Hannah Elizabeth Payne, tendo sido considerada culpada do crime de assassinato em segundo grau, eu a condeno, por isso, a passar pela melacromagem, pelo Departamento de Justiça Criminal do Texas, a passar trinta dias na ala Cromo da Prisão Estadual Crawford e a permanecer Vermelha por um período de dezesseis anos."     

Hannah Payne é uma assassina, portanto, uma vermelha. Precisa aprender a sobreviver em uma sociedade que a despreza e a vê como escória. Após uma relação ardente com um religioso famoso, ela engravida. E aborta logo em seguida. Mas se recusa a delatar o pai do bebê, arcando com tudo sozinha para protegê-lo. Ela acredita que conhece bastante do meio onde vive, mas apesar de conhecer bem mais do que a maioria das jovens da época, Hannah vai descobrir que a situação pode, sim, ser mil vezes pior do que parece.

A premissa desse livro, claramente baseada no grande clássico "A letra escarlate", é tão fantástica que nem vale comentar muito. Basta dizer que supera as expectativas, que já são altas. A escrita é ágil, envolvente, em um ritmo perfeito para os propósitos da história. Com certeza Hillary acertou em cheio ao estrear com um romance tão contundente, espero que haja mais de onde veio esse.

"De volta para Deus. As palavras acenderam um clarão brilhante de ânsia dentro dela, quase instantaneamente apagado pelo desespero. Rezara para Ele todos os dias, na prisão, antes e durante seu julgamento, ajoelhando-se no chão duro da cela até seus joelhos latejarem, implorando seu perdão e clemência. Mas Ele permanecera silencioso, ausente, como jamais estivera antes."

Os assuntos tratados são adultos, fortes e passíveis de várias interpretações. As críticas veladas são muitas e em vários sentidos. Aborto, machismo, tráfico de mulheres. No entanto, o viés mais intenso e chocante é com certeza o religioso. A fé que não conhece limites, que fere, que já nem pode mais ser chamada de fé. Abuso de poder. Sem contar toda a grande questão envolvendo a justiça. Um livro para além do polêmico, daqueles que dariam um debate quente.

"Cada um deles dava um único golpe, com qualquer arma que escolhesse usar: uma bota, ou uma soqueira de metal, um cassetete, uma faca, um revólver. Cada um tinha o poder, quando chegava sua vez, de mutilar, matar ou deixar viver, tudo a seu critério. A única prova que deixavam dos seus atos era aquele símbolo, marcado a fogo ou a laser na carne das suas vítimas. Poucos membros do Punho haviam sido algum dia capturados, muito menos sentenciados. Os líderes escapavam da captura, protegidos pela autonomia das Mãos e pela lealdade fanática dos seus integrantes."

Eu tive as minhas questões com a heroína, com a trama. Discordei de algumas coisas, achei outras muito falhas, fiquei com raiva e achei o final insuficiente e o desenvolvimento meio lento. Refleti muito, também. Mas não vou levar em consideração, simplesmente porque esse livro foi muito mais do que isso tudo para mim, e vou tentar vê-lo como um todo.

"O que estou tentando dizer, o que preciso que você entenda é que em cada ponto, ao longo do caminho, fiz minhas próprias escolhas, as escolhas que me pareceram certas, e que estou preparada para viver com as consequências. Não viverei mais é com vergonha e arrependimento, e espero que você também não."

E como um todo, foi muito satisfatório. Creio que essa distopia cumpriu muito bem seu papel. Mexeu tanto comigo que precisei, por vezes, dar umas paradas para respirar e tentar colocar ordem no turbilhão de pensamentos. Precisei retomar o fôlego e a calma. É forte, cru, chocante. Terrivelmente bem construído, no geral. É apavorante, assustador, pensar em um futuro assim. Há vários aspectos que podem e com certeza irão desagradar a alguns ou mais do que alguns. Mesmo assim, Indico o livro fortemente. Uma leitura densa, daquelas que permanecem com a pessoa muito tempo depois. E após ler, você não será mais o mesmo, nem que um pouco. Por isso já vale.

Sobre a capa: Possui fundo preto e um rosto pintado de vermelho com um capuz preto tapando os olhos, dando para ver apenas nariz, bochecha e boca de perfil. Toda a escrita na capa em branco. E no fim uma frase da Publishers Weekly: "Um dos melhores livros do ano. Inegavelmente, um clássico do século XXI".

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6 comentários:

  1. Já tinha ouvido falar desse livro e sempre tive muito interesse nele, pelo pouco que sei da premissa a história com certeza é muito boa. Os temas fortes que são tratados chamam a atenção por ser uma leitura mais adulta. Com certeza eu quero ler esse livro.

    beijos
    http://pobreleitora.blogspot.com.br/

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  2. Parece extremamente surpreendente, já está na minha lista de leitura :D

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  3. Oi :D

    Me senti meio perdida na resenha :S
    O enredo parece bom, mas os assuntos que são abordados nele não me interessam tanto, sofro demais com livros assim então acabo deixando pra lá! Esse eu passo ..

    Bj.
    Passeando com os livros

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  4. Eu adoro distopias, e essa me parece muito boa. Gosto dessas tramas mais densas, que trazem assuntos atuais e polêmicos, que nos fazem ficar pensando mesmo depois de finalizarmos a leitura. Quando um livro consegue mexer assim conosco, alguns detalhes que poderiam prejudicar a leitura, ficam em segundo plano.

    @_Dom_Dom

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  5. Quando li "Quando ela acordou estava vermelha…", achei que fosse vermelha de sangue, banhada por sangue, e conforme fui avançando na leitura vi que se tratava de algo diferente. É um tema polêmico.

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  6. Oi, Aninha.
    Eu nunca tinha ouvido falar desse livro, acredita? Eu gosto bastante de distopias, mas estou achando algumas histórias meio repetitivas e com enredos parecidos. Não foi o caso com esse livro. Ele aborda temas tão atuais e reais, que chega a ser perturbador. Vai para a lista agora mesmo!
    Beijos!

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